A potência e profundidade da Comunicação Não Violenta

Interagir e se comunicar de maneira leve e espontânea consigo e  com as pessoas pode não ser nada fácil. A falta de clareza do que sentimos pode criar abismos e mal-entendidos que afetam a convivência e trazem desconforto interno.

Antes de tudo, a Comunicação Não Violenta (CNV) é uma ferramenta poderosíssima de resolução de conflitos aplicada em mais de 65 países ao redor do mundo. Inclusive em regiões assoladas por guerras, como Ruanda, Croácia e Sérvia. Criada pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, que defende que na maneira como falamos e ouvimos os outros está a chave para o problema das desavenças e discórdias.

Conexão Profunda

Em outras palavras, ela ensina como ter verdadeira empatia, conectar-se de maneira profunda e promover a autocompaixão. Busca relações de cooperação e parceria, nas quais predominam a expressão do que sentimos com honestidade. Além disso a observação não julgadora de nossos sentimentos e dos sentimentos e ações dos outros. A atitude de não julgar deve ser oferecida primeiramente se queremos encontrá-la em nossas conexões. Ele também ensina a empatizar profundamente com as próprias emoções, para poder comunicá-las de maneira assertiva.

Na mesma linha, parece algo simples. Mas a maioria de nós não comunica claramente o que sente ou o que necessita. Assim, acaba não deixando claro o modo como gostaria que o outro agisse consigo. E para isto é fundamental ter clareza e entendimento de quais as suas necessidades para poder comunicá-las. É na maneira como falamos e ouvimos os outros que está a chave para o problema das desavenças e discórdias.

Como tudo começou

A princípio, Rosenberg cresceu em um bairro do centro da cidade de Detroit. Desde muito cedo teve que lidar com situações graves de violência.  Com o desejo de entender de onde nasce a violência e como diminuir seu impacto, escolheu estudar psicologia. Em 1961, conquista o doutorado. em Psicologia Clínica pela Universidade de Wisconsin. Em 1966 recebe o status de diplomata em psicologia clínica do American Board of Examiners in Professional Psychology. Nessa época conhece o renomado o psicólogo Carl Rogers, seu amigo pessoal e mentor.

The Center for Nonviolent Communication (CNVC)

Desta forma, iniciou sua carreira profissional estabelecendo uma clínica bem sucedida em Saint Louis no estado americano do Missouri. Mas através de sua vontade de se aprofundar nas causas da violência, deixa a clínica particular e começa a trabalhar como motorista de táxi. Nesse sentido, após uma profunda pesquisa e análise, cunha o termo “Comunicação Não-Violenta” (CNV) que o respalda para auxiliar no combate a segregação racial nos anos e luta pelos direitos civis nos anos 1960 em locais de forte tradição segregacionista nos EUA. A partir desta experiência, funda o The Center for Nonviolent Communication (CNVC), onde atuou como Diretor de Atividades Educacionais.

Assim, alcançou milhares de pessoas ao redor do mundo. Através de seus diversos livros, workshops e palestras em mais 65 países promoveu a resolução de conflitos de forma pacífica. A partir desta experiência, funda o The Center for Nonviolent Communication (CNVC), onde atuou como Diretor de Atividades Educacionais.

Entendendo do que se trata a CNV

Em primeiro lugar, pense agora que você irá contar ao seu melhor amigo um problema importante que esteja passando. É algo íntimo e grave, que o deixa constrangido.  Você fala tudo que sente, de maneira honesta e sincera.  Se este  amigo lhe escuta, mas gasta uma energia enorme em lhe julgar, querendo impor a você o modo como ele pensa que você deve ou não agir, isto lhe trará um sentimento de inadequação muito grande. 

Afinal de contas do alto da sua “sabedoria”, ele lhe diz tudo que deveria ter feito. Você não queria alguém para lhe dizer o que fazer. Apenas para lhe ouvir. Mas ele não conhece essa linguagem, não sabe conectar e acolher os próprios sentimentos, como vou apoiar os seus? A única linguagem que aprendeu é a do julgamento e é esta que tem a lhe oferecer. Ele lhe impõe a sua verdade, sem levar em consideração aquilo que você sente em relação ao ocorrido.

Acolher o que é ouvido

Assim, pense como irá se sentir mal. Triste. Você só queria desabafar, falar com alguém que pudesse lhe entender. E tudo o que ele fez foi julgá-lo. Não soube reconhecer e considerar o que você estava sentindo. Apenas impôs seu modo de ver as coisas e visão de mundo, em uma necessidade egoísta de mostrar que faria melhor que você nessa situação. E toda a possibilidade de criar um laço profundo de confiança acaba vindo por água abaixo. , provavelmente você não o buscará novamente para desabafar. Mas e se este amigo o escuta sem nenhum tipo de julgamento, sem tentar dizer o que você deve ou não fazer e apenas lhe conforta, dizendo que o entende, como você irá se sentir? É muito bom, não é?

O que irá nos salvar é a empatia

O mais importante é ressaltar a verdadeira empatia: o não julgamento e apenas o acolhimento das emoções alheias. Acima de tudo, quando nos sentimos verdadeiramente acolhidos em nossos sentimentos, isto gera uma sensação de alívio muito grande. Neste momento estamos experimentando a empatia.Desta forma, a dificuldade de escutar sem julgar é resultado da falta de construção de habilidades emocionais. Ainda estamos engatinhando no entendimento da importância de uma educação dos sentimentos. Negligenciar este valor causa danos muito graves à construção e à formação do caráter de qualquer pessoa.

Qualidade nas relações

Acima de tudo, a felicidade e o bem-estar dos seres humanos estão diretamente ligados à qualidade de suas relações. Pessoas com habilidades emocionais como compreensão, gentileza e empatia têm chances maiores de sucesso. Seus relacionamentos não serão utilitaristas e meros jogos de poder, onde sempre há algo a ganhar. Tanto os relacionamentos mais íntimos quanto as interações que temos nos locais que frequentamos diariamente serão mais saudáveis. Perceber que o outro importa e reconhecer a importância dele fará de você uma pessoa realmente importante.

Colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução

Portanto, colocar-se no lugar do outro convida você a perceber que não está sozinho neste mundo. Da mesma forma que desenvolver a capacidade de compreensão emocional das dificuldades e carências alheias de pessoas que também sofrem as mesmas dores libera uma energia que tende a voltar para você mesmo.

Empatia abre caminhos

Além disso, pessoas empáticas sempre são reconhecidas pelo modo como conseguem fazer as outras pessoas se sentirem aliviadas e acolhidas. Elas têm o poder e a delicadeza de empreender esforços para que os demais possam ficar bem, sejam eles seu pai ou o velhinho que está ao seu lado na fila do café. E a gentileza destas pequenas atitudes cria o ambiente contrário à hostilidade, que é o da cooperação, camaradagem e cumplicidade. Este clima influencia nas oportunidades, sejam elas no seu trabalho, no seu negócio ou na sua casa. Você prefere frequentar a padaria onde o caixa sempre o sorri e lhe dá bom dia com carinho e atenção ou o bar onde o atendente nem olha para a sua cara?

Escutar o outro

Em conclusão, Marshall Rosenberg especifica a CNV como “Uma abordagem específica da comunicação que nos leva a nos entregarmos de coração, ligando-nos a nós mesmos e aos outros de maneira tal que permite que nossa compaixão natural floresça. Ela nos guia no processo de reformular a maneira pela qual nos expressamos e escutamos os outros, mediante a concentração em quatro áreas: o que observamos, o que sentimos, do que necessitamos, e o que pedimos para enriquecer nossa vida”.

Nesse sentido, como desenvolver esta empatia se estamos sempre tão apressados e atarefados vivendo nossas vidas que quase sempre estão no piloto automático? Para que empreender esforços nisto? A criação da empatia fortalece nossos relacionamentos, pois tendemos a nos comunicar de maneira mais amorosa e compreensiva. Mas só desenvolvemos esta capacidade quando nos tornamos capazes de perceber nossos sentimentos e emoções em determinados contextos e situações.

Cuidar do diálogo interno

Assim, o modo como interagimos com o mundo retrata a forma que lidamos com nossas emoções e o diálogo interno que temos. Se você critica os outros, não tem paciência ou tolerância com ninguém ou cobra muito em suas relações, certamente trata a si próprio desta mesma forma, e isto se reflete em sua interação no dia a dia. Aceitar que precisa aprimorar este diálogo é o primeiro passo. Ter mais compreensão e aceitação de si mesmo também.

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