Por Semadar Marques
Texto originalmente publicado no site da ABRH-Brasil
Os últimos anos exigiram um estoque alto de criatividade e coragem para enfrentar as adversidades e desafios. Quem se negou a encarar a realidade e não se dispôs a encontrar fórmulas criativas e diferentes para enfrentar a crise foi ficando pra trás, perdendo competitividade e vendo o barco literalmente afundar.
Até mesmo grandes empresas já estabelecidas perceberam que, para continuar dinâmicas e participantes em um mercado cada dia mais exigente em qualidade de produtos e serviços, é necessário buscar inspiração em modelos de inovação velozes e eficientes, que valorizem a criatividade, com método e foco na inovação. E, em momentos de instabilidade, lembrar-se da filosofia chinesa que tem na mesma palavra significados que remontam à crise e à oportunidade pode despertar a ousadia que estava faltando para lidar com a situação.
E aí eu lhe pergunto: Qual a receita para alcançar, dentro das organizações e de maneira espontânea a natural, esse pensamento aberto? De que forma dá para mobilizar e engajar pessoas para que idealizem e desenvolvam novas formas de pensar que originem soluções práticas e simples, renovando e rompendo barreiras?
A resposta é bem simples. Precisamos de líderes que vençam seu ego e estejam abertos ao novo, principalmente quando esse novo venha de seus liderados e não dele próprio. Superar barreiras e resistências que possam bloquear o fluxo de novos conceitos e projetos é o ponto crucial para que novas ideias possam surgir e reverberar de maneira positiva, dando espaço para que algo inovador seja concebido.
Em outras palavras, é dar espaço para que funcionários, colaboradores e parceiros possam cruzar pontos de vista, debater de maneira positiva suas ideias, e até seus devaneios, e criar a partir dessas interações e reflexões; abrir caminho para o pensamento que chamamos disruptivo, que é capaz de questionar o status quo vigente e encontrar novas saídas e formas mais inteligentes de alcançar resultados.
Lideranças que agem nesse modelo tem uma característica em comum: todos possuem um pensamento totalmente aberto ao aprendizado. Eles não acham que sabem tudo nem que seu crescimento e seu aprendizado tenha se esgotado. Seu olhar é como o de um bebê logo que começa perceber a vida buscando aprender e entender melhor o funcionamento de tudo que ele cerca, com curiosidade para assimilar novas ideias e insights e sem o preconceito de quem acha que já passou por todo nesta vida. A vontade de vencer deles é tão grande quanto a vontade de assimilar conhecimento e se dedicam a isso com a postura humilde de aprendizes ao interagirem com pessoas e situações.
Estão receptivos a novas formas de pensar e agir e não se melindram com pensamentos divergentes. Ao contrário, estão receptivos ao questionamentos das verdades que construíram ao longo da vida e dispostos a mudar a direção se preciso for. Não se melindram com propostas e projetos que não sejam os seus, pois não cultivam o medo de perder espaço caso uma boa ideia que não seja sua venha à tona. Têm uma boa autoestima que lhes assegura a confiança necessária para dar vazão a todas as novas ideias que podem surgir em seu entorno.
E se você ainda tem dificuldade de lidar com o pensamento diferente ao seu com a valorização das ideias que não são suas, tudo bem. O que importa mesmo é reconhecer que você tem uma competência que precisa ser desenvolvida. Não se muda aquilo que não se aceita e o primeiro passo para a mudança é a aceitação numa boa, sem autocobrança nem autocrítica exagerada.
Pessoas não são perfeitas, muito menos líderes. E, quando se fala de influenciação, o exemplo da busca pela mudança inspira muito mais do que qualquer outra atitude imposta. Se você mostrar aos seus liderados e as pessoas que caminham junto com você que está disposto a ser alguém melhor, essa postura irá reverberar de maneira muito positiva e sua influência irá estimular a todos a fazerem o mesmo.
Os melhores e maiores especialistas do mundo em liderança e engajamento garantem que olhar para si e superar o próprio ego, se permitindo a aprender com tudo que lhe rodeia, não é o melhor caminho para a inovação. É o único.